Bem-vindo(a)
Este espaço foi criado em 2017 e tem por objectivo de transmitir um pouco de tudo, que o publico desconhece ou nunca ouviu falar. Contudo a história por si é feita de pequenas e grandes histórias, desde factos banais a acontecimentos
Bem-vindo(a)
Este espaço foi criado em 2017 e tem por objectivo de transmitir um pouco de tudo, que o publico desconhece ou nunca ouviu falar. Contudo a história por si é feita de pequenas e grandes histórias, desde factos banais a acontecimentos
Na vasta galeria das rainhas de Portugal encontram-se algumas que viveram dramas de grande intensidade. Sofreram como qualquer ser humano as vicissitudes de uma existência recheada de saudades (da família e da terra que, nalguns casos nunca mais viram), de ansiedade pelos perigos que corriam o marido e os filhos, das consequências de intrigas palacianas que lhes desvirtuavam, tantas vezes, o carácter, sofreram , enfim, a amargura comum a qualquer outra mulher.
A história julgou umas, com maior benevolência, outras, com amarga injustiça e, até, esquecimento.
Apareceu há já algum tempo, nas livrarias, um livro escrito pelo autor francês Stéphane Bern, intitulado “Moi, Amélie, dernière Reine de Portugal” e prontamente traduzido, respeitando à letra o título original.
Baseado em documentos inéditos, no diário íntimo e correspondência de D. Amélia de Orleães, o autor elaborou uma obra de muito interesse e verdade histórica, donde ressalta prestigiada a figura desta Rainha mal compreendida no seu tempo.
Seduziu-o, naturalmente, a vida atribulada desta Senhora que nasceu e morreu, no exílio, por imperativo político que conduziu ao banimento da família de Orleães, em França e, anos mais tarde ao da família Orleães Bragança, em Portugal.
Amélia era filha do Conde de Paris, pretendente ao trono de França após a morte do filho de Carlos X.
Nasceu em Londres, no dia 28 de Setembro de 1865, para onde partira o rei Luís Filipe (seu bisavô) acompanhado de sua família, após a Revolução de 1848. A rainha Vitória recebeu, com toda a benevolência, a Família Real de França que por aqui estagiou alguns anos.
Após a guerra Franco-Prussiana, e deposto Napoleão III, os Orleães regressaram a França, em 1871.
Era, pois, uma criança de seis anos, quando D. Amélia pisou a terra dos seus antepassados e onde permaneceu até à sua vinda para Portugal, como Duquesa de Bragança.
Refere-se à sua infância, adolescência e juventude com alguma amargura, porque seus pais foram de uma grande exigência na sua educação e referindo que sua mãe chegava a dar-lhe bofetadas, mesmo nas vésperas do casamento.
Valia-lhe a afeição das tias e tios, e o convívio com primos e amigos que lhe permitiam escapadelas a Cannes e a Andaluzia (Sevilha), dominadas por caçadas, bailes, passeios, esquecendo, então, a austeridade do Castelo de Eu, na Normandia, sua residência habitual.
Cedo atingiu uma altura pouco vulgar numa mulher (1,82m) o que não lhe agradava, e lhe valeu, entre os familiares mais próximos, o petit nom de “grande”.
O facto de ser a filha mais velha do pretendente ao trono de França e, entretanto, ter atingido os dezoito anos, modificou o estilo de vida.
Jovem, de uma grande beleza ligada a uma família de grandes tradições não seria difícil concitar as atenções de casas reais da Europa, procurando um casamento com príncipes – herdeiros ou não – dos seus estados. No entanto, havia que transpor algumas barreiras, como a religião que a afastou da casa real inglesa e de algumas casas reais alemãs. Havia ainda obstáculos de natureza política a que era forçoso atender.
Em Viena conheceu um príncipe russo que lhe agradou, pelo seu aspecto físico, galhardia, cultura e inteligência, mas nada resultou deste encontro.
Carlos de Bragança, jovem príncipe conhecido de um tio de D. Amélia, foi a Paris, intencionalmente para a conhecer.
Logo se sentiram atraídos por uma empatia mútua. Afinidades e gostos comuns (equitação, caça, arte) e a beleza física envolveram-nos num sentimento de amor.
Ela gabava-lhe o cabelo louro anelado, o bigode bem tratado, o porte, a delicadeza, o encanto pessoal e a juventude (vinte e três anos).
Ele revia-se na sua beleza delicada, no olhos escuros e expressivos, no colo de uma brancura imaculada, no seu charme.
Havia quem a lamentasse, dizendo-lhe directamente: “tu vais esconder-te num buraco” – tão mal era considerado o nosso país, nos finais do séc.XIX...
Todavia, D. Amélia ficou indiferente a este mexericos, enlevada no seu pretendente.
O pedido de casamento foi tratado pouco tempo depois, realizando-se em Fevereiro de 1886, por forma a que D. Carlos pudesse permanecer em Paris, ainda alguns dias, para acompanhar sua noiva.
Regressado a Portugal, enviou cartas muito ternas a D. Amélia que está envolvida nos preparativos de casamento e sua partida para Portugal, o que aconteceu em meados de Maio seguinte.
Um comboio especial, trazendo a noiva, família e amigos, chegou à estação de Santa Apolónia, às cinco da tarde, aguardado pelo Rei D. Luís, a Rainha D. Maria Pia, todo o corpo diplomático e nobres da corte.
Entretanto, num gesto de delicadeza, D. Carlos foi esperá-la a Santa Comba Dão, onde trocaram, na gare, o seu primeiro beijo público.
O comboio deslizava por entre manifestações de alegria que o povo tributava, aos noivos, postado ao longo da linha férrea ou nas estações de paragem técnica.
O casamento celebrou-se na igreja de S. Domingos, ricamente decorada, no dia 22 de Maio de 1886.
O cortejo nupcial era imponente, com coches dos séculos XVII e XVIII, os militares em trajo de gala, montados em soberbos cavalos, fazendo guarda de honra aos carros que traziam as pessoas mais ilustres.
A descrição pormenorizada deste cortejo, bem como as festas palacianas e populares anteriores e subsequentes ao casamento encontra-se num livro, escrito pelo Marquês de Flers, e dedicado ao Conde de Paris.
Os noivos ficaram a residir no Palácio de Belém que D. Amélia recordava como a residência que mais lhe agradou e onde foi muito feliz.
Gostava de montar no picadeiro do Palácio, que mais tarde mandou adaptar a Museu dos Coches. Preocupada com o que respeitava à arte, entendeu que deviam reunir-se os coches dispersos por várias arrecadações.
É o museu que ainda hoje lá se encontra e constitui um acervo, sem par, na Europa, salvo o de Sampetesburgo.
Inicialmente a sua vida de casada foi de uma grande felicidade. Ao fim de pouco tempo – Março de 1887 - nasceu o príncipe Luís Filipe, criança que era o encanto de sua mãe e, como diz, não queria largar em nenhum momento.
Desempenhou tarefas oficiais, ao lado de seu marido, como, por exemplo, representar o Rei e a Rainha nas festas do jubileu da rainha Vitória.
Gostava da vida simples de uma família normal, por isso gostava de se refugiar em Sintra; de permanecer em Cascais, para ir à praia e nadar; de caçar, na tapada de Mafra; de ir ao teatro D. Maria II ou a S. Carlos, à ópera, sempre acompanhada do marido.
A pintura, o desenho, a contemplação de paisagens, retratos de figuras populares, sofredoras na sua vida de trabalho, absorviam-lhe o tempo gostosamente dedicado à arte.
Em 1889, com a morte de D. Luís, torna-se Rainha de Portugal, o que determinou a alteração de algumas normas da vida restrita que apreciava.
Todavia pôde entregar-se vivamente à obra de bem-fazer que passa a ser a sua preocupação dominante.
Fundou a Assistência Nacional aos Tuberculosos que funcionava num edifício ainda hoje ligado aos mesmos serviços, no Cais do Sodré, tornando a assistência pragmática, pondo em funcionamento dispensários distribuídos por vários distritos do país. Crianças e adultos atingidos pelo mal do século eram atendidos e tratados. Tudo isto a expensas suas.
Fundou também os Sanatórios de Santana e do Outão (à beira-mar), o de Sousa Martins(Guarda) e um em Braga. Também o hospital do Rego, para crianças; as Cozinhas Económicas, os Socorros a Náufragos, o Instituto do Ultramar, o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana (para preparação do soro anti-rábico e antidiftérico). Para sustentar esta obra recorria à generosidade de amigas deixadas em França e outras de Portugal.
Gostava de se misturar com o povo, em procissões religiosas; conversar com as varinas; vivenciar a degradação dos pobres que se arrastavam pelas ruas da cidade, o que redobrava a sua ânsia de lutar contra este mal social.
Os homens esquecem depressa os benefícios colhidos, seja qual for a época da história.
Portugal vivia, então, momentos políticos de grande agitação. Todos os intelectuais, escritores de mérito, em críticas aceradas remetiam para o regime a responsabilidade do nosso atraso económico, cultural e social.
Revoltas de tribos africanas facilmente manipuladas por franceses, ingleses e alemães obrigaram à mobilização de militares que vão combater em Angola e Moçambique.
O Ultimato de 1890 enviado pela Inglaterra despertou, nos Portugueses, uma onda de revolta.
Os partidos políticos que mais se destacaram (Regenerador e Progressista) alternam-se no poder , mais interessados em manter o seu prestígio do que em zelar pela governação. Os governos sucediam-se uns aos outros , sem cumprirem os programas necessários ao país.
João Franco recebeu de D. Carlos poderes dilatados, o que levou a uma reacção exarcebada dos políticos que defendiam ideais republicanos e apareciam, cada vez, em maior número.
Associações secretas e anarquistas incitavam à violência que, de resto, varria as casas reais da Europa e políticos conservadores.
Carlos que era inteligente, culto e bom diplomata não foi capaz de aguentar a crise grave que se instalara, começando a ser vítima, bem como toda a família real, de intrigas, censuras e alimentadas por uma imprensa que recorria à chacota, até em desenhos intencionais.
No dia 1 de Fevereiro de 1908, deu-se o regicídio, nas condições conhecidas.
Podemos imaginar a dor e todo o dramatismo sofridos por D. Amélia. Na sua presença mataram o marido e o filho; corajosamente bateu, com um ramo de flores que uma menina lhe oferecera, no Cais das Colunas, afastando um dos regicidas que queria matar D. Manuel..
Destroçada pelo aspecto desolador do marido e do filho tão querido ensanguentados, teve de reunir forças para velar os corpos, na capela do Palácio das Necessidades (sua residência) e onde, anos antes, havia recebido a Rosa de Ouro oferecida por Leão XIII, pelos seus serviços prestados aos necessitados.
Na sua mente atropelavam-se todas as ideias, desde as saudades amargas ao espanto de um acto atroz.
Havia que enfrentar a realidade. D. Manuel, agora Rei, jovem e impreparado para governar, precisava do apoio de sua mãe , dos seus conselhos e da sua experiência política.
Apesar da luta concertada para levar o barco a porto seguro, a instabilidade continuava a ser uma constante.
Os republicanos não desistiam, os monárquicos revelaram-se laxistas; a instituição monárquica tinha os dias contados.
Em 5 de Outubro de 1910, a República é implantada.
A Família Real procurou o exílio, recolhendo a bordo do iate Amélia ancorado ao largo da Ericeira.
A Rainha D. Amélia seguiu para Inglaterra, acompanhada de D. Manuel II; a rainha D. Maria Pia, acompanhada do Infante D. Afonso regressou à sua Itália natal, a Turim.
De novo o exílio!
Durante a 1ª. Grande Guerra, D. Amélia distribuiu o seu serviço em favor de feridos, defesa de crianças e adolescentes entre a Inglaterra e a França.
Em 1922, fixou-se definitivamente em França, em Chesney, perto de Versailles.
Depois de ter visto desaparecer pessoas de família que lhe eram muito queridas, D. Manuel II morreu, em 1932, inesperadamente, na sua casa de Richmond. Mais uma rude provação para um coração de mãe.
Assistiu em França ao desenrolar da 2ª Guerra Mundial, sofrendo a ansiedade dos franceses que viram a França ocupada pelas tropas alemãs, apenas em três semanas.
Manteve-se firme na sua casa, prestando auxílio aos que precisavam de ajuda. A bandeira portuguesa içada no alto do telhado, mostrava aos invasores que se tratava de uma propriedade de Portugal, pois que D. Amélia continuou a sentir-se portuguesa, a nacionalidade que abraçou, e nunca renegou, ao casar-se com D. Carlos.
Veio a Portugal em 1945, para visitar os túmulos de seu marido e dos filhos e tratar, com o governo, de assuntos que se prendiam com a herança de D. Manuel.
Os jornais da época falam do entusiasmo do povo em a rever ou conhecer e das homenagens oficiais que lhe foram prestadas.
Visitou o Palácio da Pena (quis ficar sozinha, por algum tempo, enquanto percorria certos espaços), Cascais, o Buçaco, Mafra e Ericeira (a praia por onde partiu para o exílio).
Visitou a Assistência Nacional aos Tuberculosos que havia fundado quarenta e seis anos antes. Proferiu algumas palavras, evidenciando que aquela casa fora o seu grande sonho. O Director da instituição disse, então, que era estudante de medicina quando, naquela mesma sala viu Sua Majestade proceder à inauguração da Assistência Nacional aos Tuberculosos.
Regressou a França, não sem antes ter recebido uma despedida muito afectuosa, por parte de entidades oficiais, e de pessoas do povo que enchiam a estação de Santa Apolónia.
E, no momento em que o comboio se preparava para partir, soltou um “Viva a Portugal “...
Viveu ainda mais seis anos. Desgostosa e saudosa, queixava-se de solidão.
Rodeada de pessoas dedicadas que estavam ao seu serviço (algumas eram portuguesas) e de alguns familiares faleceu no dia 25 de Outubro de 1951.
Pouco antes falou em Português.
O seu corpo foi transladado para Portugal, realizando-se funerais nacionais. Ficou sepultada no Panteão Nacional, em S. Vicente de Fora, junto do marido e dos filhos.
Uma inscrição gravada na arca tumular, sintetiza o drama desta Senhora, nem sempre compreendida pelos homens do seu tempo e não muito referida nos dias de hoje.
Aqui descansa em Deus D. Amélia de Orleães.
Rainha no trono, na caridade e na dor.
Em rodapé:
Uma delegação vinda de França colocou uma placa em mármore que diz o seguinte:
Souvenir du Chesnay (France) dernier asyle de la Reine Amélie – Hommage de la Societé d´Histoire du Chesnay. 1996
Já pode espreitar 130 fotografias da última rainha de Portugal
Para celebrar os 152 anos do nascimento de D. Amélia, o Palácio da Ajuda tirou dezenas de fotos dos álbuns pessoais da rainha e mostra-as agora ao público. Muitas foram tiradas pela família.
Quando uma nova invenção chamada fotografia chegou a Portugal, a sociedade oitocentista recebeu-a com curiosidade. Entre os mais entusiastas estava a rainha D. Amélia, que colecionou quase 50 álbuns de fotografias, ora tiradas por ela e pelo rei D. Carlos, ora feitas por profissionais. Uma seleção de 130 dessas imagens está exposta a partir desta quinta-feira no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, na exposição “Tiré par… A rainha D. Amélia” — nesta fotogaleria pode ver 19 delas.
Após o regicídio, a 1 de fevereiro de 1908, a rainha D. Amélia voltou ao estúdio para ser fotografada em traje de luto. Um pormenor que mostra a relação da rainha, nascida há 150 anos, com a fotografia. Quando a família real viajava, visitava os grandes estúdios europeus, como Boissonas et Taponier em Paris, Numa Blanc fils em Cannes ou Withmore e W. S. Stuart em Londres, para que fizessem o seu retrato, pode ler-se no texto que acompanha a mostra. Mas em muitas das imagens encontram-se as inscrições “Tirée par Carlos” (tirado por Carlos), “Tirée par le Prince” ou “Tirée par le Marquis de Fronteira”, o que inspirou o título da exposição.
Pouco ficava entregue ao acaso. Nas fotos tiradas aquando das visitas de Afonso XIII de Espanha, Eduardo VII de Inglaterra e do Presidente Loubet de França, os protagonistas apresentavam-se por ordem hierárquica. Os reis e presidentes ficavam em primeiro plano, por trás os príncipes, ministros, conselheiros e embaixadores, por vezes enquadrados por militares nos seus trajes de gala.
No dia-a-dia, os reis registaram os momentos de lazer e de intimidade, desde as caçadas em Vila Viçosa e Mafra aos piqueniques na praia da Adraga. Ao longo dos álbuns, bem legendados e datados, há imagens onde é possível ver a rainha e o rei a segurar as câmaras.
“Tiré par… A rainha D. Amélia” foi comissariada por Luís Pavão e produzida em parceria pela Fundação Casa de Bragança, Palácio Nacional da Ajuda e Centro Português de Fotografia. Pode ser vista em Lisboa até 20 de janeiro de 2016, de quinta a terça-feira, das 10h às 18h, com a entrada a custar cinco euros. Em maio segue para o Paço Ducal de Vila Viçosa e em setembro fica no Porto, no Centro Português de Fotografia.
Funeral da Ranha D.Amélia de Orleães (1951)
«Emmenez-moi au Portugal; je m’endormirai en France, mais c’ést au Portugal que je veux dormir pour toujours.» - Rainha Dona Amélia
A 25 de Outubro de 1951 foi recebida em Portugal, a triste noticia de haver falecido, em Versailles, a Augusta e Venerada Senhora Dona Amélia de Orléans e Bragança, Rainha de Portugal.
A Rainha Senhora Dona Amélia, pelo muito amor e afeição que teve a Portugal de que foi Rainha e pelo que muito honrou e tão dignamente serviu a Pátria, bem mereceu todas as honras e homenagens que lhe foram prestadas.
Ela tornou-se justamente credora em todos os corações portugueses que tiveram o prazer de a conhecer. Como que uma respeitosa veneração, todos continuaram a tê-la, na sua memória, como a Rainha de Portugal. Ela era amada e querida por todos.
Não podia o Governo português mostrar-se insensível a tantas provas de amor patriótico e de civismo, dadas por uma Mulher que se encontrava exilada da sua amada Pátria.
Foi enviado a França o NRP Bartolomeu Dias, para trazer o seu corpo para Portugal, missão confiada ao Exmº Capitão-de-Mar-e-Guerra, Oliveira Lima ao 2º Comandante Aragão e ao Reverendo Padre Correia da Cunha. Foi no dia 26 de Novembro de 1951, que a urna com os restos da Rainha D. Amélia Rainha de Portugal foi transportada a bordo do navio da Armada Portuguesa, no Porto de Brest.
Dignificou-se o Governo Português em dar fiel cumprimento dos desejos expressos por Sua Majestade, promovendo a vinda para Portugal dos seus restos mortais, que ficariam no Panteão da Dinastia de Bragança, em São Vicente de Fora, junto aos túmulos de Seu Marido e Filhos. Coube a este mesmo Governo, fazer-lhe um funeral nacional, com as honras devidas à Sua dignidade de Rainha de Portugal e de considerar luto nacional o dia 29 de Novembro.
Revestiu-se de grande imponência e da mais esplendorosa solenidade o funeral da Rainha Senhora Dona Amélia, que se realizou oficialmente em Lisboa.
O cortejo fúnebre teve início no Terreiro do Paço, conforme podemos verificar na presente foto. Marinheiros do Bartolomeu Dias, transportando a urna, formavam um cortejo, encabeçado por Padre José Correia da Cunha – capelão da Marinha Portuguesa.
Estas cerimónias tiveram o cunho impressionante da gratidão e da saudade portuguesa, manifestada no comovido recolhimento e no religioso respeito com que muitas centenas de milhares de pessoas, que assistiram à passagem da urna, que encerrava o corpo da excelsa e querida Rainha dos Portugueses.
O povo permaneceu monárquico e apesar duma república imposta, não esqueceu a sua Rainha.
Foi testemunhado que, quando a urna foi retirada do Coche para ser conduzida para o templo, uma força militar, formada por soldados de Infantaria 1 deu as descargas da ordem, ao mesmo tempo que os clarins tocavam a sentido. As bandeiras, os estandartes e os guiões baixaram em funeral e uma banda de música executou a marcha fúnebre de Chopin.
Às cerimónias religiosas realizadas na Igreja de São Vicente de Fora assistiram o "chefe de estado" membros do governo, Reis e Príncipes estrangeiros, altas patentes do Exército e da Armada, Corpo Diplomático, altas autoridades civis, Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e outras dignidades eclesiásticas, onde se incluía o Padre José Correia da Cunha.
A missa solene de “Requiem” foi presidida pelo Cónego Arcediago da Sé de Lisboa, Dr. Avelino Gonçalves, acolitado pelos beneficiados Vítor Franco e Gonçalves Pedro.
Antes de se dar início à Missa fez-se ouvir a marcha fúnebre de Schumam, tendo depois a orquestra executado a missa de Perosi.
O Senhor Visconde de Asseca e o Senhor Capitão Júlio da Costa Pinto foram inclusive a bordo do NRP Bartolomeu Dias, agradecer ao Comandante e à tripulação do navio, da armada portuguesa, a forma respeitosa e o serviço religioso, assim como o patriótico recolhimento, com que toda a tripulação do navio se associou ao luto da Nação. Este episódio foi-me relatado por Padre Correia da Cunha, dando a entender que o cadáver de Sua Majestade foi velado piedosamente durante todo o trajecto desde o Porto de Brest até ao Terreiro do Paço, em Lisboa.
No dia que passam 60 anos sobre essa data não poderia deixar de recordar esta última guarda de honra, ou seja, a homenagem saudosa e comovida da dedicação e da lealdade dos seus antigos súbditos.
Embora francesa de origem, tornou-se portuguesa pela afeição à sua Pátria adoptiva, que a ela se prendeu com todos os afectos. Era esta afeição que lhe aprimorava a alma e o coração. Ficou gravada em pedra, no seu túmulo, em letras gravadas a ouro:
AQUI DESCANSA EM DEUS
DONA AMÉLIA DE ORLEÃES E BRAGANÇA
Maria Amélia Luísa Helena de Orleães (Twickenham, 28 de setembro de 1865 — Le Chesnay, 25 de outubro de 1951) foi a última rainha de facto de Portugal.
Durante a sua vida, Amélia perdeu todos os seus familiares diretos: defrontou-se com o assassinato do marido, o rei D. Carlos I de Portugal, e do filho mais velho, o príncipe real D. Luís Filipe (episódio conhecido como Regicídio de 1908); vinte e quatro anos mais tarde, recebeu a notícia da morte do segundo e último filho, o rei D. Manuel II; e também ficara de luto com a morte de sua filha, a infanta D. Maria Ana de Bragança, nascida em um parto prematuro, e, em 1920, com a morte do cunhado, o infante D. Afonso de Bragança, Duque do Porto, único irmão do rei D. Carlos I.
Ela foi um dos membros da família real portuguesa exilada após a implantação da república - facto ocorrido a 5 de outubro de 1910 - que visitou Portugal em vida, bem como o último membro a morrer, aos oitenta e seis anos. Amélia de Orleães viveu sofridas décadas de exílio, entre Inglaterra e França, onde aguentou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Esta frase estava entre as suas últimas palavras:
“
Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal.
”
O Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos (IANT) foi criado em 1953
No IANT, foi integrado a Assistência Nacional aos Tuberculosos) criada por D. Amélia, rainha de Portugal, em 1899 pela Lei de 17 de Agosto. Na época, o total de mortes por tuberculose era estimado em 15 a 20 mil (o equivalente a uma taxa de 297 a 396 por 100 mil habitantes).
Synopsis
A intenção do autor é estudar o doente, investigando seus sentimentos e seu papel no contexto da tuberculose. Para tanto, ele desvenda a doença, os especialistas, as instituições e as relações sociais relacionadas à peste branca no Brasil nos primeiros cinqüenta anos do século passado. Interessante para os profissionais de saúde, historiadores e todos os interessados pelo enfoque humano na história da tuberculose, este livro discute a construção do ideário sobre a doença no Brasil, analisando comportamentos individuais e coletivos. A utilização de fontes documentais diversas, como obras literárias e os prontuários médicos, é importante, na medida em que constituem peças fundamentais na composição da história social da doença e do doente e de todos os envolvidos na tragédia regida pela tuberculose.
São mais de 200 objetos da NASA e de outras agências espaciais, como a da antiga União Soviética, na exposição Cosmos Discovery, que inaugura esta sexta-feira, 14, junto à Estação Fluvial de Belém, no Terreiro das Missas, em Lisboa. A mostra, que pretende contar o passado, o presente e o futuro da exploração espacial, divide-se em seis galerias que ocupam cerca de dois mil e 500 metros quadrados, numa enorme tenda montada para o efeito.
Os visitantes terão a oportunidade de ver modelos de foguetes, cápsulas, equipamentos, fatos espaciais e até pedaços de asteróides com milhões de anos. Em Cosmos Discovery, poderemos também reviver as histórias de quem andou pelo espaço, como a cadela Laika, o primeiro ser vivo a ser lançado para o universo, Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelos cosmos, e Valentina Tereshkovae, a primeira mulher a partir numa nave espacial.
Também o chimpanzé americano Enos será recordado, através de uma réplica da cápsula em que viajou, em 1961, a bordo da nave Mercury. Ou o astronauta David Scott, de quem Cosmos Discovery mostra um casaco que usou quando pisou a Lua durante a missão Apollo 15. Não faltam objetos do quotidiano no espaço, expostos nas vitrines da exposição: sacos de comida embalada (doce de pêssego, salada de atum, bolachas de água e sal), as meias de Donald Kent Slayton, o cantil onde Yuri Gagarin levava vodca, pacotes de higiene da Apollo, uma t-shirt usada por William Reid Pogue na viagem ao espaço do programa espacial norte-americano Skylab, três módulos básicos originais da nave espacial soviética Soyuz.
“Assim que entrarem na primeira galeria, as pessoas vão sentir-se num ambiente espacial. E ver as necessidades que eles [astronautas] passavam, entendendo como as coisas funcionavam. Chegam ao fim da exposição e apercebem-se como a exploração espacial é importante para a humanidade”, acredita José Araújo, produtor executivo da empresa World Crew Events e da Cosmos Discovery em Portugal. “Esta exposição pode levar os visitantes a explorar um universo paralelo ao nosso”, acrescenta. É a primeira vez que o foguete Lunar que foi usado nas missões Apollo é exibido fora dos Estados Unidos da América e na mostra estão também partes originais do motor F1 do foguetão Saturno V.
Cosmos Discovery, que começa a sua digressão em Lisboa e vai viajar pelo mundo nos próximos cinco anos, tem ainda mesas de controlo de missões originais e um modelo à escala da nave americana Mercury. E num cockpit de uma nave espacial, onde nos deixam entrar e sentar, será possível imaginarmo-nos astronautas, a viajar pelo espaço.
O Paço da Ribeira localizava-se na margem do rio Tejo, na Ribeira de Lisboa, em Portugal. Consistia num luxuoso palácio real erguido a partir de 1498, por determinação de D. Manuel I, no contexto da descoberta do caminho marítimo para a Índia e do monopólio português do comércio das especiarias do Oriente com a Europa. Foi totalmente destruído no terramoto de Lisboa, em 1755. No local do primitivo palácio situa-se, hoje, o complexo ministerial do Terreiro do Paço. Ribeira das Naus foi o nome dado a partir da construção do Paço da Ribeira às novas tercenas que o rei Dom Manuel I mandou edificar a ocidente do novo palácio real, construído sobre o local das tercenas medievais. No século XVIII, a Ribeira das Naus passou a ser designada "Arsenal Real da Marinha" quando as suas instalações foram construídas no mesmo local, no âmbito da reconstrução da Baixa de Lisboa, depois do terramoto de 1755. Em 1910, passou a designar-se "Arsenal da Marinha de Lisboa". O Arsenal da Marinha de Lisboa foi desactivado em 1938. O seu antigo local - cujo acesso ao rio Tejo foi cortado com a construção da Avenida Ribeira das Naus - faz hoje parte das Instalações da Administração Central da Marinha.
A Ribeira das Naus, com as docas Seca e da Caldeirinha, constituíu o conjunto dos maiores estaleiros do Império Oceânico Português, servindo de modelo aos restantes que se foram construindo além-mar, nomeadamente às ribeiras de Goa e de Cochim.
A Ribeira das Naus foi recentemente requalificada e atrai actualmente lisboetas e turistas para agradáveis passeios dominicais. A requalificação da Frente Ribeirinha da Baixa Pombalina, foi um projeto prioritário da Câmara Municipal de Lisboa e da autoria dos arquitectos João Nunes e João Gomes da Silva. O projeto baseou-se na recriação do sítio que outrora constituiu a Doca Seca cuja origem remonta aos Descobrimentos Portugueses. As obras permitiram devolver ao público a Doca da Caldeirinha, uma estrutura que remonta a 1500 e que está hoje coberta de água, podendo ser atravessada através de um passadiço em madeira e a Doca Seca onde desde o século XVII eram recuperadas embarcações. A intervenção englobou, pois, a requalificação das infraestruturas enterradas e o avanço da margem, criando uma nova avenida ribeirinha e uma escadaria que é como que a nova praia urbana da cidade. Em complemento, criou-se um jardim cujos planos relvados, inclinados, recriam a configuração da antiga doca e permitem melhor usufruir o Tejo. Lisboa ficou ainda com mais encanto e com um novo jardim com vista privilegiada para o rio. Este novo espaço público privilegia o peão e o contacto com o rio. Se ainda não passeou por este novo espaço público "alfacinha", delicie-se, entretanto, com as fotos da Ribeira das Naus de ontem (antes de 1940) e de hoje e com o vídeo que se segue.
Ribeira das Naus
Novo projecto da Ribeira das Naus no âmbito das intervenções da Frente Tejo, S.A.
Os carros traziam pirâmides de carga no tejadilho, os vidros tinham de ir sempre abertos, parava-se em Canal Caveira para comer um cozido e tentava-se – sem muita sorte – passar as curvas das serras sem enjoar
A parte final acabava sempre com Rita a vomitar dentro do carro. Depois de mais de cinco horas de viagem, que por vezes passavam a sete, ultrapassar a serra de Monchique sem enjoar era quase impossível. O FIAT 128 formato carrinha ia apinhado de carga – as malas e a roupa seguiam no porta-bagagens; no tejadilho iam quatro ou cinco caixotes de cartão, com mercearia para pelo menos três semanas e uma espécie de forno portátil (que servia de torradeira e também dava para fazer assados). No banco da frente viajavam os pais e, atrás, entre os dois irmãos, Fernando e Rita, e várias almofadas, havia ainda uma televisão. Era um momento de grande tensão:
"Vais vomitar?", perguntava o pai. "Ó pai, não sei!", respondia Rita.
Ninguém queria parar. A serra já era no Algarve e queriam chegar o mais cedo possível à praia Maria Luísa, em Albufeira. Além disso, se parassem demorariam outra meia hora a ultrapassar o camião que ficara para trás.
"Acho que estou mal disposta, vou vomitar!" continuava Rita. "Mas queres que pare? É que se paro, aquele camião vai passar-me outra vez."
Normalmente, a indecisão resolvia-se da pior maneira. "Ela vomitava dentro do carro", recorda Fernando Miguel Carvalho, 37 anos, à SÁBADO. Ainda pior era a fase seguinte: "Ela vomitava nas costas do banco do meu pai e depois tínhamos de aguentar aquele cheiro o resto da viagem."
Viajar de Lisboa para o Algarve nos anos 60 e 70, quando ainda não havia auto-estrada (o único troço era entre Almada e o Fogueteiro e tinha apenas nove quilómetros), era uma odisseia. A viagem podia estender-se por cinco, sete ou 10 horas. Era preciso passar por todos os vilarejos e terrinhas e enfrentar filas intermináveis. Sem ar condicionado nem áreas de serviço.
A família de Fernando, professor de engenharia informática, fazia o percurso todos os anos, em Julho ou Agosto. A vigem era preparada com antecedência: a mãe comprava as mercearias (sobretudo enlatados para fazer sanduíches) e acondicionava-as em caixotes de cartão do supermercado.
O carro era abastecido na véspera. No dia da viagem, o pai de Fernando era o primeiro a levantar-se para prender os caixotes com elásticos e cordas ao tejadilho. A mãe fazia o pequeno-almoço – um termo com café e outro com leite com chocolate e sanduíches de manteiga e fiambre – e os dois irmãos acordavam às 5h, quando o carro já estava pronto. "Não era invulgar. Todos queriam ser os primeiros a chegar ao Algarve", recorda.
Antes da serra, o primeiro grande objectivo era passar a velha ponte de Alcácer – uma estrutura metálica de 1945, onde só cabia um carro. Até aí, não havia paragens.
Alcácer do Sal era um dos principais pontos negros do percurso: formavam-se ali filas de quase 30 quilómetros (houve uma altura em que a fila começava logo a seguir à portagem, quando a auto-estrada já terminava na Marateca) e o ambiente era tenso. "Estava tudo irritado e não havia grandes conversas", conta o professor.
Só depois se fazia a primeira paragem, num pinhal antes de Grândola (as seguintes seriam mais rápidas, à beira da estrada, para fazer chichi). "Púnhamos a toalha no chão e tomávamos o pequeno-almoço."
No início dos anos 60, o Algarve não era ainda um destino de massas. E os principais acidentes nas estradas eram provocados por animais e carroças. A 1 de Agosto de 1960, escrevia o Diário de Lisboa: "As manadas ou os rebanhos que há poucas dezenas de anos circulavam pacificamente pelas estradas, e eram um dos seus motivos de bucólico encanto, passaram à categoria de perigosos inimigos dos automobilistas."
Miguel Sousa Tavares tem experiência disso. Começou a ir para Lagos com a família aos 11 anos. Como eram muitos (os pais, cinco filhos e duas empregadas), dividiam-se: uns iam de carro, um Renault Dauphine, os outros de comboio. As 14 malas iam sempre no comboio.
A viagem de locomotiva durava oito horas, mas o percurso de carro era uma aventura ainda maior: "Era preciso sobreviver ao meu pai ao volante, tínhamos susto atrás de susto. Ele teve uns sete acidentes, só contra burros foram três vezes", conta à SÁBADO. Um deles foi à saída de Lagos: meteu-se por uma estrada sem saída, convencido de que não apareceria ninguém, e embateu de frente contra um burro. "Começou logo uma discussão entre ele e o homem da carroça e às tantas já a minha mãe estava metida: ‘Ó Francisco, não tens razão nenhuma!’ e o meu pai respondia-lhe ‘Lá está você a levar a do burro contra mim’."
Parar no meio da estrada para deixar arrefecer o motor era um clássico. "O carro sobreaquecia e tinha de se lhe deitar água", recorda o jornalista. Uma vez, na serra de Espinhaço de Cão, o carro não parava de deitar fumo e a família apanhou um susto: com medo que fosse explodir, fugiram para trás das árvores. Ficaram à espera mais de 15 minutos e quando regressaram é que perceberam o que se passava. "O meu pai estava a subir a serra com o travão de mão e nem deu por isso", lembra Sousa Tavares.
Foi na década de 70 que começaram as grandes romarias durante o mês de Agosto. Desde os anos 30 que as "licenças graciosas" (uma espécie de férias) estavam previstas para a Função Pública – ganhavam como se estivessem a trabalhar mas não tinham remuneração extra –, mas só a partir dos anos 60 houve uma alteração e começou a ouvir-se falar de férias. A partir de 1969, os privados passaram também a ter direito a férias. A mesma lei previa o pagamento de subsídios que, contudo, não tinham carácter obrigatório.
A 31 de Julho de 1971, O Século Ilustrado fez um especial sobre o tema e chamou-lhe Férias, Uma nova actividade. Dizia a revista: "Hoje, se não for a mais de 200 quilómetros do local de trabalho, ninguém se considera verdadeiramente de férias. Banhos? Não há como os do Algarve. Aquilo até dá gosto."
A família do designer João Catarino ia para o Algarve de Carocha. Era uma multidão: ele, os pais, a irmã e a empregada Laurinda. João não se sentava no banco traseiro, preferia ficar no espaço entre o banco e o motor, onde a trepidação era maior. "Era perigosíssimo, se alguém chocasse por trás nem quero imaginar! Mas não havia essas preocupações de segurança", recorda.
Durante a viagem, entretinha-se com o rádio a pilhas de Laurinda (a ouvir músicas do Festival da Canção); a ver as pirâmides de carga dos outros carros caírem ao mais pequeno toque, e a observar as pessoas que paravam no meio da estrada. Tinha outro ritual: empurrar a irmã para a esquerda e para a direita, conforme o balanço das curvas. "Acabava sempre em choradeira e em castigos."
Quando paravam para fazer um piquenique, era Laurinda que estendia a manta de xadrez debaixo dos pinheiros e que servia a refeição à família: arroz de frango com salsichas, ervilhas e pedaços de cenoura. Comiam em pratos de plástico duros, laváveis, e bebiam chá quente. Outras vezes, optavam pelo cozido em Canal Caveira e enfrentavam as filas de carros e de pessoas que se amontoavam naquela recta da EN 259.
A localidade, situada no concelho de Grândola, ficava sensivelmente a meio do caminho e tornou-se paragem obrigatória. "Chegávamos a ter 30 a 40 pessoas à espera ao longo do balcão e a fila continuava lá fora", conta à SÁBADO José Francisco, um dos funcionários mais antigos do restaurante Canal Caveira, fundado em 1949 e que ganhou fama por causa do cozido. "Era feito só com produtos caseiros. As hortaliças vinham de particulares que produziam de propósito para nós. Coisa que ainda acontece", diz o funcionário.
Bernardo Reino, 62 anos, mais conhecido por Gigi (dono do restaurante com o mesmo nome, na Quinta do Lago), fez a primeira viagem para o Algarve ainda a ponte Salazar não tinha sido inaugurada. Foi sozinho numa mota Honda 50 encarnada, tinha apenas 14 anos.
Na altura, os três destinos mais procurados na região eram Monte Gordo, "para onde iam sobretudo os alentejanos", Praia da Rocha, "destino das famílias com ascendência algarvia que viviam em Lisboa", e Albufeira, "para os mais jovens, ligados à música, às saídas à noite e às boîtes", descreve o empresário algarvio.
Aquela primeira viagem, rumo à Praia da Rocha, durou 12 horas e começou azarada: depois de atravessar o barco do Cais do Sodré até à Trafaria no ferry-boat – que levava 20 carros de cada vez, 7,40 euros por carro e 3,70 euros por passageiro, num total de 15 minutos de viagem –, teve um furo. Resultado: foi obrigado a empurrar a mota até à localidade mais próxima, o Fogueteiro. "As terras eram vivas, tinham oficinas e havia sempre alguém que arranjava as coisas."
Quando havia um acidente, ou um problema com o carro, a única solução era esperar que alguém passasse e fosse pedir ajuda ou arranjar boleia até à povoação mais próxima. Durante a noite, as oficinas fechavam e ao fim-de-semana não havia reboques.
Certa vez, a família de Fernando Carvalho terminou a viagem em casa de uns agricultores. "Tivemos um acidente e o carro começou a arder e apanhámos um susto. Aconteceu na Marateca, perto da casa de uns agricultores que nos deixaram pôr o carro num armazém e telefonar. Como não havia reboque nesse dia, o meu pai foi de boleia com o senhor a quem bateu até Setúbal para ir alugar outro carro e vir buscar-nos", conta.
Durante vários anos, a principal ligação entre Lisboa e o Algarve fazia-se pela N 5 até ao Torrão, e daí até ao Algarve pela N 2. A serra do Caldeirão, mais conhecida como a estrada das mil curvas, era um dos pontos críticos do percurso. "Era como atravessar o Quilimanjaro. Havia um restaurante/pensão, chamado Tia Bia, que ficava exactamente no fim da serra e, portanto, era paragem obrigatória depois daquela aventura", diz Bernardo Reino.
Contudo, na primeira viagem até à Praia da Rocha, o empresário optou pelo caminho mais perto da costa e parou numa estalagem do Cercal. Jantou, descansou umas horas e seguiu caminho. Estava ansioso por dar um mergulho nas águas do Algarve, que já eram conhecidas como as mais quentes. Chegou já de noite mas mesmo assim foi ao banho. Arrependeu-se: "Estava à espera de uma água tipo banheira, mas enganei-me. Foi uma banhada!"
Lugar temido antes de ser terapêutico. Lugar deserto antes da moda dos banhos. Eis a praia ao longo do tempo
Ir para a praia nas horas mais quentes. Ficar na praia. Deleitar-se no contacto com a areia, a água e o sol. Há cem anos tudo isto seria considerado excentricidade em Portugal. O conceito de praia como local de diversão é relativamente recente. Data de meados do século XX. Os banhos de mar foram, antes de mais, terapêuticos. E mesmo esta moda é coisa moderna, posterior à Revolução Industrial. No passado mais remoto – até ao 'despertar do desejo colectivo de praia', como lhe chama a historiadora e mestre em História Contemporânea Joana Gaspar Freitas – manteve-se a tradição de repulsa pela beira-mar, alimentada pelos perigos, reais ou fantasiosos, do oceano. Ultrapassados esses receios do desconhecido e, mais tarde, já no século XX, com a promoção do turismo de massas, não restam dúvidas: o fenómeno social da praia transformou completamente o litoral e, em alguns casos, significou a ruína da paisagem e do equilíbrio natural. Homem da faina, o pai de Lurdes Batalha, de 67 anos, varina da Nazaré, morreu num naufrágio, após ter sobrevivido a uma trintena deles. Lurdes, que ficou sem o pai aos nove anos, tem memória da praia da Nazaré há muitas décadas e lembra-se do que ouviu contar sobre os hábitos de quem a frequentava no início do século – 'as famílias finas que traziam as criadas e ficavam os meses de Julho e Agosto.' Na Figueira da Foz, as mulheres tomavam banho vestidas, comenta Manuel da Cruz Silva, de 83 anos, engenheiro reformado. Na Praia da Rocha, António Duarte, comerciante, diz que os homens levavam uma camiseta para velar o peito. Em Sines, a avó de Francisco Lobo Vasconcelos, arquitecto, contou-lhe que 'a praia era importante por uma questão de saúde'. E não mentiu. Os banhos de mar por indicação terapêutica surgiram no final do século XVIII na Inglaterra e na França. Em Portugal tornaram-se vulgares entre os grupos sociais mais elevados a partir da segunda metade do século XIX. Eram recomendados para vários tipos de doenças, entre as quais a anemia, raquitismo infantil e depressão. Na Nazaré, para maleitas dos ouvidos 'eram cinco banhos diários', lembra-se Lurdes Batalha de ouvir dizer aos mais velhos. Os banhos eram administrados como se de medicamentos se tratasse. Segundo a historiadora Joana Gaspar Freitas, havia 'um rigoroso código de conduta a ser seguido por quem procurava nas praias a cura para os seus males'. Definia-se não só a época mais indicada para banhar-se, como a duração da estada balnear, o número de imersões e a duração das mesmas, sem descurar o vestuário adequado para entrar no mar. Praias indicadas, por exemplo, para o tratamento da tuberculose pulmonar eram as que ficavam entre Buarcos e S. Martinho do Porto e as do Cabo da Roca, Sines e Albufeira. Joana Gaspar Freitas nota que 'a Imprensa do século XIX contribuiu de forma decisiva para a difusão da praia, pelo destaque que deu à estada das elites no Litoral, narrando as festas e a diversão que envolvia a temporada de banhos'. O desejo de imitar a aristocracia, associado à melhoria das condições de vida, ao desenvolvimento dos transportes e à instituição do dia de descanso semanal conduziu à massificação da praia, sem que tal, como explica a historiadora, tivesse significado de imediato mistura de classes. Diferentes grupos sociais usavam diferentes trechos da costa ou frequentavam-nos em alturas diferentes do dia. Na Figueira da Foz, as senhoras tomavam banho ao meio-dia e o povo ia de manhã cedo. Na segunda metade do século XIX, a regra era ‘a cada um a sua praia’. Póvoa de Varzim, Espinho e Figueira da Foz eram praias mais cosmopolitas, abertas a banhistas de todas as regiões e até de Espanha. Leça era a praia preferida da colónia inglesa do Porto e Pedrouços a eleita da burocracia lisboeta. Outras eram apanágio de famílias da aristocracia, como acontecia em Vila do Conde, Granja e Cascais, onde, a partir de certa altura, também a família real passou a marcar presença. 'A posterior instalação da corte em Cascais durante o Verão pode ser considerada como o movimento percursor da moda do banho em Portugal', considera a historiadora. Em Cascais, já nos anos 40 do século XX, o pai de Severino Ribeiro, que foi o primeiro concessionário da praia da Azarujinha, era cumprimentado pelo Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, que, no Verão, se mudava para o Forte de Santo António, no Estoril – onde, em 1968, viria a cair da cadeira –, pagando a estada do seu bolso ao Instituto de Odivelas, ao qual o forte estava confiado. Salazar perguntava pelo miúdo a João Severino e dizia-lhe que o mandasse almoçar no forte com as alunas do instituto.
MUDANÇA
'No início do século XIX existiam longas extensões do litoral praticamente desertas ou povoadas apenas por pequenas comunidades piscatórias, cujos aglomerados eram constituídos por algumas cabanas feitas de materiais precários.' Logo que chegaram os primeiros banhistas foi preciso construir casas, pensões e hotéis para alojá-los, bem como cafés, casinos – em Cascais havia um à beira-mar – e lojas para entretê-los. Resultado: zonas até então desertas ou pequenas povoações de pescadores cresceram rapidamente de olho na oportunidade de negócio Segundo a historiadora, 'várias vilas e cidades do nosso litoral são o produto do despontar do desejo colectivo da praia. É o caso de Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Espinho, Nazaré, Figueira da Foz, Ericeira e Cascais, as mais antigas, e já no século XX, Vila Nova de Milfontes, Praia da Rocha, Quarteira, Albufeira e Monte Gordo.' No início do século XIX, a povoação de Espinho tinha 'pouco mais do que alguns palheiros de pescadoras e duas ou três casas de pedra e cal'. Quando foi construído o caminho-de-ferro tudo mudou – em 1918 contava já com vários edifícios elegantes, hotéis, teatros, casinos e cafés. O crescimento urbano que se registou ao longo da costa portuguesa ainda no século XIX intensificou-se no século XX com o turismo de massas e tomou 'proporções desmedidas nas últimas décadas'. O que esta apetência sem regras significou para a orla costeira está à vista. 'A conversão do litoral num local apetecível e muito procurado implicou a sua transformação –o aumento significativo da área e do volume das construções, o aparecimento de avenidas marginais e paredões longitudinais, a edificação de casas o mais próximo possível do mar, tantas vezes em cima de dunas e arribas.' Os sistemas costeiros baseiam-se em equilíbrios precários que o fenómeno social da praia destruiu, como aconteceu em algumas zonas do Algarve, ou ameaça – caso do Sudoeste Alentejano. Esta pressão é uma das causas da erosão costeira a que assistimos actualmente. 'A construção de molhes, esporões, paredões e outras estruturas de engenharia pesada mais não são do que tentativas, infrutíferas, para tentar fixar um sistema natural que se caracteriza pela sua dinâmica', considera Joana Gaspar Freitas. O areal de Espinho, que António Gaio, de 83 anos, diz ter sido o dobro na década de 30, não é caso singular na costa portuguesa. Os donos dos bares da Costa de Caparica têm visto o mar entrar-lhes pela porta adentro com regularidade, clamando então pela reposição artificial de areia. 'Quase 70 por cento da costa portuguesa está em risco de perder terreno.' O alerta é repetido pelo físico e professor catedrático Filipe Duarte Santos, que é também o maior especialista nacional em cenários, impactos e medidas para lidar com as alterações climáticas em Portugal. 'O dobro', diz António Gaio, sem avançar uma medida concreta. Os especialistas concluíram entretanto que, nos últimos anos, a taxa de recuo da costa tem variado entre 20 centímetros e nove metros. A zona de maior risco foi identificada entre a Foz do Douro e a Nazaré. A praia do Furadouro, em Aveiro, recua, em média, nove metros por ano. Na segunda metade do século XIX era frequentada principalmente pela gente das regiões e localidades próximas. Era uma praia modesta – nada como a Apúlia ou o Baleal, reservadas a famílias selectas. Na segunda metade do século XXI, a praia do Furadouro arrisca-se a desaparecer do mapa. Não será a única caso as previsões de subida da água do mar até um metro ou um metro e meio se concretizem. Praias pequenas, rodeadas de arribas, arriscam o mesmo destino. Os fenómenos de erosão associados à subida do nível do mar que se prevê resultar do processo de mudança climática ameaçam devolver o Litoral à categoria do território inóspito e perigoso que era a sua antes da moda dos banhos terapêuticos. 'É preciso lembrar que, durante muito tempo, o litoral não era acessível à maioria da população por falta de estradas e transportes', afirma a historiadora Joana Gaspar Freitas. Para os pescadores era espaço de sustento. Para o Estado era fonte de receitas, pela cobrança de taxas alfandegárias, e de ameaças externas, por via da pirataria ou de invasões estrangeiras. E para o público em geral era um local desprezado, pouco conhecido e evitado.
'PRAIA PARA O MEU AVÔ ERA TRABALHAR'
Enterrar os pés na areia ou olhar o mar era, para Manuel Álvares Tiago, sinónimo de trabalho. O guarda fiscal instalou-se 'muito novo' em Peniche – zona balnear muito procurada desde o início do século passado – e os seus dias eram passados de olhos postos na praia, à procura de contrabandistas ou de barcos encalhados. 'O meu avô adorava o mar, nunca tirava de lá os olhos, mas no seu tempo de descanso não gostava de ir para a praia, entendia isso como trabalho', conta o neto, Carlos Tiago, de 66 anos.
'O MEU PAI PESCAVA NO MAGOITO'
O pai, militar, levava-o à pesca na praia do Magoito, Sintra. Rogério Miranda nasceu há 60 anos em Lameiras, ali ao pé, mas desde cedo se encantou pelo Magoito e pelas histórias de viscondes, como o da Asseca, que caçavam na região e erguiam casas diante do mar bravio. No tempo em que a derrocada da duna fóssil ainda não tinha começado.
'AS MULHERES IAM AO BANHO VESTIDAS'
Hoje Manuel da Cruz Silva, 83 anos, prefere as águas mais quentes e está de partida para a Tunísia, mas lembra-se bem 'de picar carreiros', modalidade a que 'chamam fazer surf', no mar da Figueira da Foz. 'A praia era maior e poucas pessoas iam. Os homens só vestiam o fato de banho na praia, dentro dos barcos, as mulheres iam vestidas e assim ficavam mesmo se tomavam banho', recorda o engenheiro reformado.
'IA ALMOÇAR AO FORTE SALAZAR'
'Só o frete de ter de me vestir...' Severino Ribeiro não podia apresentar--se de calção no ‘forte Salazar’, como era conhecido o forte de Santo António, no Estoril, onde o ditador passava as férias. Tinha de pôr bibe, gorro e calçar as alpercatas. D. Maria, a governanta, servia-lhe o almoço, tal como às alunas do Instituto de Odivelas. Severino cresceu, deixou de ser convidado para o forte. Tornou-se banheiro da praia da Azarujinha, em Cascais. Ao serviço da elite.
“SINES ERA QUESTÃO DE SAÚDE”
Francisco Lobo Vasconcelos recorre às memórias da avó para descrever a praia Vasco da Gama há cem anos. “As pessoas mudavam-se de armas e bagagens durante quatro meses para Sines”, recorda o arquitecto, natural de Santiago do Cacém. “Usavam-se fatos de banho que pareciam vestidos e ia-se para a praia por volta das sete da manhã. Havia um banheiro que dava a mão às meninas que voltavam encharcadas. Iam para as barracas onde estavam jarros com água doce para retirar o sal.” O resto do dia passava-se entre piqueniques, burricadas e bailes à noite, em redor da praia. “Tudo se passava bem cedo e a praia era importante por uma questão de saúde.
'AS CRIANÇAS TINHAM MEDO DAS ONDAS'
Lurdes, 67 anos, conta que o pai, Joaquim Batalha, morreu no trigésimo naufrágio em que esteve envolvido. 'Só viradelas de mar teve 22 e uma vez o mar estava tão bravo que foi ter à Ericeira'. Quando não se fazia ao mar, o pescador ia ajudar o filho mais velho, o banheiro António, na praia. 'As crianças tinham medo das ondas, mas os pais insistiam com os banheiros que às vezes tinham de lhes dar vários banhos seguidos' para curar as maleitas.
'AREAL DE ESPINHO ERA O DOBRO'
'O areal era o dobro e havia a tradição das barracas.' É assim que António Gaio, 83 anos, lembra a praia de Espinho no início do século XX. O pai contava-lhe sobre as festas de Santiago e a colónia espanhola que agitava o areal. 'E a elite vinha à procura dos efeitos terapêuticos do mar. Estiveram cá o Guerra Junqueiro e o Amadeu Souza-Cardoso', conta o director do festival
CINANIMA 'SÓ ALGUNS VINHAM A SESIMBRA'
Francisco Silva tem 84 anos e é natural de Sesimbra, tal como os pais e os avós. Lembra-se da vila ser, na década de 30 do século passado, muito menos concorrida do que agora. Então, só 'alguns senhores do Alentejo' vinham passar as férias com a família. As sopeiras eram disputadas pelos sesimbrenses nas noites de sábado, quando as criadas tinham folga. 'Mas a mim nunca me calhou nenhuma', diz sorridente.
'VENDIAM-SE OS BOLOS CAPARICANOS'
Alberto e Ana Maria Cambalacho, 59 e 58 anos, relembram as histórias do tempo em que a classe média lisboeta começou a ir passar férias à Costa. 'Chegavam e arrendavam as casas melhores e as famílias mudavam-se para um anexo'. Foi a partir de 1925 que a praia começou a ser mais concorrida. No areal 'vendiam-se bilhas de água forradas com folhas de cana e um bolo especial: os caparicanos'.
'OS HOMENS USAVAM CAMISETA'
António Duarte, o ‘Bonezinho’, leva 61 anos de trabalho na Praia da Rocha, em Portimão. Começou com 12 anos, a ajudar o pai no negócio do aluguer de toldos, e, aos 16, continuou como banheiro. Está à frente do restaurante que a família abriu na areia em 1964. Lembra-se do tempo em que o biquini era proibido. 'Os fatos de banho eram com perna e os homens tinham de usar uma camiseta para não mostrar o peito'
. 'TURISMO FOI BALDE DE ÁGUA FRIA NO MAR'
'Leve sentido'. É palavra de pescadores. 'O turismo foi um balde de água fria no mar'. 'O turismo mudou Alvor, mas para nós não mudou nada'. Quem o diz é António Jacques e Aquilino Jacques, irmãos de 70 e 65 anos, respectivamente. Já o pai era pescador quando Alvor era pouco mais do que uma pequena localidade virada para a ria e para a pesca. Os prédios e o turismo só haviam de chegar na década de 1970. António Duarte, o ‘Bonezinho’, leva 61 anos de trabalho na Praia da Rocha, em Portimão. Começou com 12 anos, a ajudar o pai no negócio do aluguer de toldos, e, aos 16, continuou como banheiro. Está à frente do restaurante que a família abriu na areia em 1964. Lembra-se do tempo em que o biquini era proibido. 'Os fatos de banho eram com perna e os homens tinham de usar uma camiseta para não mostrar o peito'.
'TURISMO FOI BALDE DE ÁGUA FRIA NO MAR'
'Leve sentido'. É palavra de pescadores. 'O turismo foi um balde de água fria no mar'. 'O turismo mudou Alvor, mas para nós não mudou nada'. Quem o diz é António Jacques e Aquilino Jacques, irmãos de 70 e 65 anos, respectivamente. Já o pai era pescador quando Alvor era pouco mais do que uma pequena localidade virada para a ria e para a pesca. Os prédios e o turismo só haviam de chegar na década de 1970. António Duarte, o ‘Bonezinho’, leva 61 anos de trabalho na Praia da Rocha, em Portimão. Começou com 12 anos, a ajudar o pai no negócio do aluguer de toldos, e, aos 16, continuou como banheiro. Está à frente do restaurante que a família abriu na areia em 1964. Lembra-se do tempo em que o biquini era proibido. 'Os fatos de banho eram com perna e os homens tinham de usar uma camiseta para não mostrar o peito'.
Visão Geral da Cultura Durante o Período do Terceiro Reich
Em 1933, Joseph Goebbels, Ministro de Propaganda e Esclarecimento Popular, deu início a um processo de sincronização cultural, através do qual as artes foram moldadas de forma a atender aos objetivos do Partido Nazista. O governo aboliu não só as organizações culturais judaicas, como também as de outros grupos [étnicos, politicos e religiosos] sob a alegação de serem política ou artisticamente suspeitas. As obras de escritores alemães de renome, tais como Bertolt Brecht, Lion Feuchtwanger e Alfred Kerr, foram lançadas ao fogo durante uma cerimônia de queima de livros realizada em Berlim.
A partir de setembro de 1933, a Câmara de Cultura do Reich (composta pelas Câmaras de Filmes, de Música, de Teatro, de Imprensa, de Literatura, de Belas Artes e de Rádio do Reich) passou a supervisionar e a controlar todas as facetas da cultura alemã. A estética nazista enfatizava o valor propagandístico da arte e glorificava os camponeses, o "ariano" e o heroísmo bélico. Essa ideologia foi instituída em nítido contraste à arte moderna e inovadora, tais como as pinturas abstratas, classificada como "arte degenerada", assim como a "arte bolchevique" e a "cultura bolchevique" [OBS: Bolsheviques = membros do Partido Comunista russo].
A arquitetura nazista era a de edifícios monumentais, de formas clássicas e estéreis, que tinham por finalidade transmitir no espaço a "grandiosidade" daquele movimento político. Na literatura, foram promovidos os trabalhos de escritores tais como Adolf Bartels e o poeta Hans Baumann, da juventude hitlerista, e foi elaborada uma "lista negra" de obras consideradas nocivas ao regime, para facilitar a remoção de livros "inaceitáveis" das bibliotecas públicas. Além da literatura camponesa e dos romances históricos focados no Volk (povo alemão), as autoridades culturais nazistas promoviam romances bélicos como forma de preparar a população para a guerra.
O "cultivo da arte alemã” (conjunto de medidas destinadas a promover artes e artistas específicos) também se estendia à indústria cinematográfica. Amplamente subsidiada pelo estado nazista, ela era uma importante ferramenta de propaganda. Filmes como "O Triunfo da Vontade" (Triumph of the Will), de Leni Riefenstahl, e "Der Hitlerjunge Quex" glorificavam o Partido Nazista e a Juventude Hitlerista. Outros filmes, tais como "Ich Klage an" (Eu Acuso), justificavam o Programa de Eutanásia, enquanto "Jud Suess" (o Judeu Suess) e "Der Ewige Jude" (O Judeu Eterno) perpetuavam estereótipos anti-semitas.
Na música, os nazistas promoviam os trabalhos dos compositores alemães Johann Sebastian Bach, Ludwig van Beethoven, Anton Bruckner e Richard Wagner, enquanto proibiam a apresentação de obras de alemães "não arianos", como Felix Mendelssohn e Gustav Mahler. Adolf Hitler assistia, com frequencia, a óperas do Festival de Bayreuth, organizado em homenagem ao compositor Richard Wagner. Os nazistas disseminavam canções e marchas de cunho nacionalista para incentivar a doutrinação ideological da população.
As companhias de teatro encenavam peças de grandes escritores alemães, tais como Goethe e Schiller, além de dramas de cunho nacional- socialistas [o nazismo se auto-entitulava “nacional-socialismo”]. Para criar um sentido maior de pertinência ao conceito germânico de Volk e de comunidade nacional (Volkgemeinschaft), os nazistas ordenaram a construção de enormes anfiteatros ao ar livre onde tais espetáculos eram realizados.
A promoção da cultura "ariana" e a supressão de outras formas de produção artística eram parte do esforço nazista para sua idéia de "purificar" a Alemanha.
O Terceiro Reich: Visão Geral
A chegada dos nazistas ao poder colocou fim à República de Weimar, uma democracia parlamentar estabelecida na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Com a nomeação de Adolf Hitler como chanceler, em 30 de janeiro de 1933, a Alemanha nazista (também chamada de Terceiro Reich) rapidamente tornou-se um regime no qual os alemães não possuíam direitos básicos garantidos. Após um incêndio suspeito no Reichstag, o parlamento alemão, em 28 de fevereiro de 1933, o governo criou um decreto que suspendia os direitos civis constitucionais e declarou estado de emergência, durante o qual os decretos governamentais podiam ser executados sem aprovação parlamentar.
Nos primeiros meses da chancelaria de Hitler, os nazistas instituíram uma política de "coordenação"—o alinhamento dos indivíduos e instituições com os objetivos nazistas. A cultura, a economia, a educação, e as leis passaram ao controle nazista. O regime nazista também tentou "coordenar" as igrejas alemãs e, apesar de não obter sucesso total ganhou apoio da maioria dos clérigos católicos e protestantes.
Uma ampla campanha de propaganda foi levada a efeito para disseminar os objetivos e ideais do regime. Com a morte do presidente alemão Paul von Hindenburg em agosto de 1934, Hitler assumiu os poderes da presidência. O exército fez a ele um juramento de lealdade pessoal. A ditadura de Hitler baseava-se em suas posições como Presidente do Reich (chefe de estado), Chanceler do Reich (chefe de governo), e Führer (chefe do Partido Nazista). Segundo o "princípio Führer", Hitler colocava-se fora do estado de direito e passou a determinar as questões políticas.
Hitler tinha a última palavra tanto na legislação nacional quanto na política externa alemã. Esta última era guiada pela crença racista de que a Alemanha era biologicamente destinada a expandir-se para o leste europeu por meio de força militar, e de que uma população alemã, maior e racialmente superior, deveria ter domínio permanente sob o leste europeu e a União Soviética. Nesta crença as mulheres exerciam um papel muito importante como reprodutoras. A política populacional agressiva do Terceiro Reich encorajava as mulheres "racialmente puras" a darem à luz ao maior número possível de crianças "arianas".
Dentro daquele sistema, as pessoas "racialmente inferiores" como os judeus e os ciganos deveriam ser eliminadas. A política externa nazista tinha como objetivo, desde o início, travar uma guerra de aniquilação contra a União Soviética e, para isto utilizou os anos de paz anteriores à eclosão da Guerra para preparar o povo alemão para o conflito. No contexto desta guerra ideológica, os nazistas planejaram e colocaram em prática o Holocausto, ou seja, o assassinato em massa dos judeus, considerados os principais inimigos "raciais" dos alemães.
Críticas explícitas ao regime eram reprimidas pela Gestapo, a polícia secreta do estado, e pelo Serviço de Segurança (SD) do partido nazista, mas o governo de Hitler era popular entre a maioria dos alemães. A pequena oposição ao estado nazista, variava desde a não conformidade a uma tentativa, abortada, de assassinar Hitler no dia 20 de julho de 1944.
Os Aliados derrotaram a Alemanha nazista e obtiveram sua rendição em 8 de maio de 1945.
A Propaganda Política Nazista
"A propaganda política busca imbuir o povo, como um todo, com uma doutrina... A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma idéia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião". Adolf Hitler escreveu tais palavras em 1926, em seu livro Mein Kampf , no qual defendia o uso de propaganda política para disseminar seu ideal de Nacional Socialismo que compreendia o racismo, o anti-semitismo e o anti bolchevismo.
Após a chegada do nazismo ao poder em 1933, Hitler estabeleceu o Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda, encabeçado por Joseph Goebbels. O objetivo do Ministério era garantir que a mensagem nazista fosse transmitida com sucesso através da arte, da música, do teatro, de filmes, livros, estações de rádio, materiais escolares e imprensa.
Existiam várias audiências para receber e assumir as propagandas nazistas. Os alemães eram constantemente relembrados de suas lutas contra inimigos estrangeiros, e de uma pretensa subversão judaica. No período que antecedeu a criação das medidas executivas e leis contra os judeus, as campanhas de propaganda criaram uma atmosfera tolerante para com os atos de violência contra os judeus, particularmente em 1935, antes das Leis Raciais de Nuremberg, e em 1938, após a Kristallnacht, quando do fluxo constante de legislação anti-semita sobre os judeus na economia. A propaganda também incentivou a passividade e a aceitação das medidas iminentes contra os judeus, uma vez que o governo nazista interferia e "restabelecia a ordem" (derrubada pela derrota alemã na 1ª Guerra Mundial).
A propaganda nazista também preparava o povo para uma guerra, insistindo em uma perseguição, real ou imaginária, contra as populações étnicas alemãs que viviam em países do leste europeu em antigos territórios germânicos conquistados após a Primeira Guerra Mundial. Estas propagandas procuravam gerar lealdade política e uma “consciência racial” entre as populações de etnia alemã que viviam no leste europeu, em especial Polônia e Tchecoslováquia. Outro objetivo da propaganda nazista era o de mostrar a uma audiência internacional, em especial as grandes potências européias, que a Alemanha estava fazendo demandas justas e compreensíveis sobre suas demandas territoriais.
Após a Alemanha haver quebrado o Pacto Ribentrof, que havia assinado, e invadido a União Soviética, a propaganda nazista passou a dirigir-se aos civis dentro do estado alemão, e aos soldados e policiais alemães que serviam nos territórios ocupados, bem como a seus auxiliares não-alemães, inventando um elo entre o comunismo soviético e o judaísmo europeu, e apresentando a Alemanha como defensora da cultura "ocidental" contra a ameaça "Bolchevique". Esta propaganda também mostrava uma imagem apocalíptica do que aconteceria caso os soviéticos ganhassem a Guerra e foi aumentada após a derrota catastrófica da Alemanha em Stalingrado, Rússia, em fevereiro de 1943. Este enredo serviu como instrumento para persuadir os alemães, nazistas ou não, além de colaboracionistas estrangeiros, a lutarem até o final.
O cinema, em particular, teve um papel importante na disseminação das idéias do anti-semitismo racial, da superioridade do poder militar alemão e da essência malévola de seus inimigos, como eram definidos pela ideologia nazista. Os filmes nazistas retratavam os judeus como seres "subhumanos" que se infiltraram na sociedade ariana; em 1940, por exemplo, o filme de 1940, “O Eterno”, dirigido por Fritz Hippler, que retratava os judeus como parasitas culturais ambulantes, consumidos pelo sexo e pelo amor ao dinheiro. Alguns filmes, como “O Triunfo da Vontade”, de 1935, de Leni Riefenstahl, exaltava Hitler e o movimento Nacional Socialista. Duas outras obras de Leni, “O Festival das Nações” e “Festa da Beleza” (1938), mostraram os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, promovendo o orgulho nacional com o sucesso do regime nazista naqueles Jogos.
Jornais alemães, principalmente o Der Stürmer, O Tufão, publicavam caricaturas anti-semitas para descrever os judeus. Depois que os alemães deflagraram a Segunda Guerra Mundial com a invasão da Polônia, em setembro de 1939, o regime nazista utilizou propagandas para causar a impressão de que os judeus não eram apenas sub-humanos, mas que eram também perigosos inimigos do Reich alemão. O regime buscava obter o apoio, ou o consentimento tácito, da população alemã para as políticas que tinham como objetivo a remoção permanente dos judeus das áreas onde viviam alemães.
Durante a implementação da chamada Solução Final, i.e. o extermínio em massa de judeus, os soldados das SS nos campos de extermínio forçavam suas vítimas a apresentar uma fachada de normalidade em ocasiões em que vinham visitas ou em que tiravam fotos e filmavam os campos, chegando ao ponto de obrigar os que iam para as câmaras de gás a enviar cartões-postais para amigos e parentes dizendo que estavam sendo bem tratados e que viviam em excelentes condições, criando assim a fachada de tranqüilidade necessária para deportá-los da Alemanha, e dos países por ela ocupados, da forma menos tumultuada possível. As autoridades dos campos usavam a propaganda para acobertar as atrocidades e o extermínio em massa que praticavam.
Em junho de 1944, a Polícia de Segurança alemã permitiu que uma equipe da Cruz Vermelha Internacional inspecionasse o campo-gueto de Theresienstadt, localizado no Protetorado de Boêmia e Moravia (hoje República Tcheca). As SS e a policia estabeleceram Theresienstadt, em novembro de 1941, como um instrumento de propaganda para consumo doméstico no Reich alemão. O campo-gueto era usado como uma explicação para os alemães que ficavam intrigados com a deportação de judeus alemães e austríacos de idade avançada, de veteranos de guerra incapacitados, ou artistas e músicos locais famosos para "trabalharem" "no leste". Na preparação para a visita de 1944, o gueto passou por um processo de "embelezamento". Depois da inspeção, as autoridades das SS no Protetorado produziram um filme usando os residentes do gueto para demonstrar o tratamento benevolente, que os "moradores" judeus de Theresienstadt recebiam. Quando o filme foi finalizado, as autoridades das SS deportaram a maioria do "elenco" para o campo de extermínio Auschwitz-Birkenau.
O regime nazista até o final utilizou a propaganda de forma efetiva para mobilizar a população alemã no apoio à sua guerra de conquistas. A propaganda era também essencial para dar a motivação àqueles que executavam os extermínios em massa de judeus e de outras vítimas do regime nazista. Também serviu para assegurar o consentimento de outras milhões de pessoas a permanecerem como espectadoras frente à perseguição racial e ao extermínio em massa de que eram testemunhas indiretas.
Proveniente de uma família nobre, Teresa nasceu no dia 4 de Setembro no Palácio da Anunciada, na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa. Filha de João Maria do Sacramento de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa e de Isabel Maria de Sousa Botelho, terceiros condes de Rio Maior, foi baptizada no dia seguinte ao seu nascimento na Capela do Palácio da Anunciada e, em 1848, fez a Primeira Comunhão no altar de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja dos Inglesinhos, em Lisboa.
De estado de saúde débil e preocupante Teresa tornou-se muito sensível, necessitando desde cedo da permanente presença e dedicação da mãe. Em 1840, aos três anos, devido à persistência de sua mãe, Teresa recuperou do estado de saúde debilitado e aprendeu a ler (em 1842 já acompanhava as celebrações litúrgicas com o missal).
A mãe teve um papel preponderante na sua orientação, primeiro na educacional ensinando-lhe letras (português, história, francês, inglês e alemão), os princípios da música e da arte e colaborando com professores particulares escolhidos por si, e na religiosa iniciando-a na prática da misericórdia através da Associação de N. Sra. Consoladora dos Aflitos que fundou em 1849 e que se dedicava ao socorro das famílias que viviam na pobreza.
Em 1855, com dezoito anos, ao pintar o Ecce Homo, Teresa sentiu o primeiro apelo místico e fez voto de castidade e um ano mais tarde redigiu um escrito onde declarou claramente a sua opção de exclusividade a Deus e ao serviço dos pobres.
Dirigiu o Colégio de Sta. Marta para Meninas Pobres, apoiado pelas Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo que se encontravam em Portugal exercendo a sua missão de atender aos pobres e desprotegidos. Em 1859, fundou, em Lisboa, com algumas amigas e dirigiu durante toda a sua vida a Associação Protectora das Meninas Pobres com Estatutos aprovados pela Santa Sé, a 21 de Abril de 1863. Esta associação está na origem da fundação da Congregação. Dedicava-se à educação de crianças pobres e à alfabetização e promoção de raparigas operárias através de aulas externas. Em 1862, as religiosas francesas foram expulsas de Portugal e Teresa, inconformada com a situação, lutou contra esta lacuna assistencial.
Em 1864 foi submetida a uma intervenção cirúrgica e, durante a convalescença, reflectiu sobre a sua vida e sobre o rumo a seguir. Na sequência destes acontecimentos, e numa tentativa de renovação religiosa do país apesar do ambiente anticongregacionista em que se vivia, Teresa manifestou à sua mãe o desejo de ser religiosa e à sua cunhada, a Marquesa de Rio Maior, a intenção de ingressar nas Irmãs da Ordem Terceira de S. Domingos, em Stone/Inglaterra, para a qual já estava aceite. Como o pai se opôs à sua saída para o estrangeiro e, vendo a necessidade do seu país, sentiu que Deus a chamava a fundar em Portugal uma congregação que se dedicasse ao serviço dos mais pobres e desfavorecidos da sociedade, como a própria salientou:
"Vendo a necessidade de estabelecer na minha Pátria uma ordem Religiosa activa, que se pudesse ocupar da educação de crianças pobres e ricas, pondo em prática todas as obras de misericórdia; que tratasse dos pobres doentes, os visitasse nos seus domicílios, numa palavra, que substituísse entre nós as Irmãs da Caridade." (THIAUCOURT, Madre Teresa de Saldanha. Vida e Obra, p. 27)
Em 1866, Teresa tinha intenção de partir com as primeiras duas irmãs para fazer o Noviciado na Irlanda num Convento de Dominicanas Contemplativas, mas foi impedida pelo pai. Só em 1887 conseguiu realizar o seu sonho quando tomou o Hábito e iniciou o Noviciado a 18 de Abril com o nome de Irmã Teresa Catarina Rosa Maria do Santíssimo Sacramento. Fez a Profissão Religiosa a 2 de Outubro e foi nomeada a primeira Superiora Geral da congregação a 9 de Novembro, com licença especial de Breve de 21 de Dezembro de 1887 emitida pelo Papa Leão XIII. Estes acontecimentos culminaram com a tomada de posse do cargo de Superiora Geral no dia 15 de Janeiro de 1888 e, mais tarde, em 2 de Outubro de 1892, com a Profissão Perpétua.
Teresa de Saldanha distinguiu-se na pintura onde aprendeu com os mestres Mr. Leberthais (carvão) e Tomás José da Anunciação (aguarela e óleo), revelando grande talento para pintar paisagens, retrato ou motivos profanos e uma preferência pela iconografia religiosa. Deixou obras de grande qualidade pictórica que foram estudadas por alguns especialistas, como António Quadros numa conferência proferida em 1988, nos 150 anos do seu nascimento, na Fundação Calouste Gulbenkian, intitulada Romantismo e Misticismo na Pintura de Teresa de Saldanha. Destacam-se nas suas obras: um auto-retrato e vários retratos de família (primeiros carvões, 1851), Ecce Homo (1855-1856), carvões, aguarelas e óleos (1856), Painel do Sagrado Coração de Jesus e S. João Baptista (Goa, 1865), Santa Brígida (Convento das Inglesinhas, 1865), Nossa Senhora e o Menino Jesus (Hospital de S. Luís das Irmãs da Caridade Francesas, 1865), Painel em honra da Beata Maria dos Anjos (1865), as últimas produções pictóricas (1869), a Mater Dolorosa e Santa Rosa de Viterbo.
Deixou também um grande espólio literário de escritos pessoais e de circunstância, nomeadamente notas autobiográficas e das suas memórias, orações, cartas, relatórios e contas. Faleceu com fama de santidade numa pequena casa alugada na Rua Gomes Freire, n.º 147, em Lisboa, no dia 8 de Janeiro de 1916 com setenta e oito anos, completamente despojada dos seus bens que lhe tinham sido retirados com a implantação da República. As exéquias foram realizadas na Igreja do Corpo Santo, em Lisboa, e o seu corpo foi sepultado no jazigo da congregação no Cemitério de Benfica, na mesma cidade, onde hoje repousa.
Teresa de Saldanha foi a primeira mulher fundadora em Portugal após a extinção das ordens religiosas. Tinha uma personalidade forte, determinada, organizada, uma notável capacidade de liderança e era trabalhadora, culta e piedosa, valores que imprimiu ao longo da sua vida em todas as acções que realizou, não esquecendo jamais a sua grande paixão a Deus e aos pobres. Foi, sem dúvida, uma grande figura feminina que se adiantou ao seu tempo, ao ocupar-se da educação feminina, e que soube corresponder às necessidades impostas pela evolução da sociedade. À data da sua morte fundara 27 casas: em Portugal 17, no Brasil 6, na Bélgica 1, nos E.U.A. 2 e em Espanha 1.
A sua memória, que continua viva nos corações tocados pela sua bondade e perseverança, serviu ao longo dos anos de inspiração à realização de diversas comemorações relacionadas com a sua vida e obra e com a congregação que fundou, através da publicação de livros, biografias e artigos, fotografias, conferências, exposições, peregrinações, programas de rádio e televisão, dramatizações, autocolantes, postais, cartazes, desdobráveis, etc.
Em 1937, foi comemorado o 1º Centenário do Nascimento de Teresa de Saldanha; em 1939, o 80º Aniversário da Associação Protectora das Meninas Pobres; entre 1968 e 1969, o 1º Centenário da Fundação da Congregação; em 1987, nos 150 anos do Nascimento de Teresa de Saldanha, foi lançada pela Congregação uma colecção de selos com o rosto da fundadora e, um ano mais tarde, foi atribuída à Rua Particular, à Estrada da Póvoa, o topónimo "Rua Teresa de Saldanha"; em 1993, 1994-1995 e 2000 foram promovidos Encontros Internacionais sobre assuntos de interesse da congregação; a Câmara Municipal de Lagoa, no Algarve atribuiu, em 1995, o seu nome a uma rua; em 2001, a Câmara Municipal de Rio Maior gratificou o topónimo de "Madre Teresa de Saldanha" a uma rua da cidade.
Actualmente decorre o seu Processo de Canonização que abriu em Portugal a 6 de Novembro de 1999 e encerrou a 17 de Novembro de 2001, entregue em Roma a 14 de Fevereiro de 2002.
Teresa Rosa Fernanda de Saldanha Oliveira e Sousa
CRONOLOGIA
4 de Setembro 1837
Nascimento em Lisboa - Portugal.
5 de Setembro 1837
Foi baptizada na capela do Palácio da Anunciada pelo Padre José Pinto da Costa, prior da paróquia de São José.
1842
Com cinco anos seguia as Celebrações litúrgicas no missal.
1844
Foi entregue à orientação espiritual do Padre Lourenço Richmond, da Igreja dos Inglesinhos, em Lisboa. Ensinou-lhe o catecismo e confessou-a pela primeira vez quando tinha sete anos.
13 de Abril 1848
Fez a Primeira Comunhão no altar de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja dos Inglesinhos.
1852
Adoeceu gravemente atingida por uma epidemia da época.
1855
Sentiu o primeiro e grande apelo ao seguimento radical de Jesus, ao pintar o Ecce Homo.
8 de Dezembro 1855
Fez, particularmente, voto de castidade.
1856
Redigiu um escrito místico onde revelou a sua opção fundamental: a exclusividade de Deus, como o grande amor da sua vida.
1858
Começou a dirigir o Colégio de Santa Marta em Lisboa, para Meninas Pobres.
18 de Janeiro 1859
Fundou a Associação Protectora das Meninas Pobres.
1860
Foi eleita Presidente da Associação Protectora das Meninas Pobres, cargo que ocupou até à sua morte.
1862
Expulsão de Portugal das Irmãs da Caridade francesas com as quais trabalhava.
21 de Abril 1863
Aprovação da Associação Protectora das Meninas Pobres por um Breve de Sua Santidade o Papa Pio IX.
1864
Adoeceu com uma estranha ferida na testa e foi submetida a uma intervenção cirúrgica. Durante este longo deserto interiorizou e amadureceu a relação pessoal com Deus. Sentiu fortemente o desejo de se entregar totalmente ao Senhor. Pediu e foi aceite pela Madre Margareth Hallalan, fundadora das Dominicanas de Stone, na Inglaterra, para ingressar na sua Congregação.
3 de Maio
Revelou a sua mãe a decisão de ser religiosa e comunicou-lhe que já estava aceite no Convento Dominicano em Stone.
10 de Junho 1865
Recebeu a medalha de Filha de Maria.
24 de Junho 1865
Começou a devoção dos Quinze Sábados, em honra do Santíssimo Rosário para recomendar à Virgem Maria o assunto da sua vocação.
1 de Janeiro 1866
Escreveu para a Madre Imelda Magee, Prioresa do Convento de Sienna - Drogheda, Irlanda acerca do projecto da fundação da Congregação.
19 de Março 1866
Recebeu a autorização do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Bento Rodrigues para dar início à obra da Fundação da Congregação.
7 de Novembro 1866
Partida para o noviciado em Drogheda na Irlanda, das duas primeiras vocacionadas: Harriet Martin, inglesa e Maria José Barros de Castro, portuguesa.
2 de Fevereiro 1867
Tomada de hábito das duas primeiras Irmãs.
29 de Setembro 1867
Em Paris, declarou ao pai a sua vocação religiosa e o desejo de se juntar às primeiras Irmãs na Irlanda, o que lhe foi proibido.
25 de Fevereiro 1868
Profissão Religiosa das duas primeiras Irmãs da Congregação e ingresso de outras no noviciado.
12 de Novembro 1868
Bênção da primeira casa da Congregação, nas Portas da Cruz, Bairro de Alfama, Lisboa.
13 de Novembro 1868
Chegada das duas primeiras Irmãs a Lisboa. Considerada a data da fundação da Congregação.
23 de Março 1869
Chegada a Lisboa da Irmã Maria de São Domingos Murphy, a primeira irlandesa a ingressar na Congregação.
1871
Abertura do noviciado em Portugal, na casa das Portas da Cruz, sob a orientação de uma monja do Convento de Drogheda.
27 de Agosto 1872
Morte de seu pai.
1877
Transferência da Casa-Mãe e do Noviciado das Portas da Cruz para a Casa de São José, em São Domingos de Benfica onde Teresa de Saldanha passou a viver.
Maio 1877
Viagem a Roma para participar na festa de homenagem ao Papa Pio IX com passagem pelo Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, em França.
Julho 1877
Enviou Irmãs para o Convento dos Cardais, em Lisboa para orientarem um Asilo de mulheres cegas, e para a Casa de Abrigo, em Braga, actual Instituto de Monsenhor Airosa, para reeducarem jovens mulheres, em risco.
1880
Abertura de uma comunidade e escola para crianças pobres no Convento de Santa Joana, Lisboa.
1884
Abertura de uma comunidade no Mosteiro de Jesus, Colégio de Santa Joana, em Aveiro.
1885
Transferência da sede da Associação Protectora das Meninas Pobres para o Convento do Salvador, em Lisboa, onde se abre uma Comunidade.
1887
Ano de grandes acontecimentos na vida de Teresa de Saldanha:
19 de Março 1887
Pediu para ser admitida a tomar o hábito na Congregação.
18 de Abril 1887
Tomou o hábito religioso com o nome de Irmã Teresa Catarina Rosa Maria do Santíssimo Sacramento. Foi dispensada pelo Papa Leão XIII de sete meses do noviciado canónico.
2 de Outubro 1887
Profissão Religiosa nas mãos do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Sebastião Neto.
9 de Novembro 1887
Foi eleita Superiora Geral da Congregação.
21 de Dezembro 1887
Breve do Papa Leão XIII dispensando-a do tempo requerido pelo Direito para exercer o cargo de Superiora Geral.
11 de Setembro 1889
Decreto de Louvor e Aprovação da Congregação por Sua Santidade o Papa Leão XIII.
24 de Abril 1890
Morte da sua mãe.
1891
Abertura de uma comunidade e Colégio no Convento das Donas, em Santarém.
2 de Outubro 1892
Profissão Perpétua nas mãos de Sua Em.cia o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José III.
1896
Abertura de uma comunidade e de um dispensário no Convento de S. Bento da Ave Maria, no Porto, sob o patrocínio da Rainha D. Amélia de Orleães.
1899
Abertura de uma comunidade e de uma escola, no Convento de São José, em Lagoa no Algarve.
18 de Dezembro 1899
Decreto de Aprovação das Constituições por Sua Santidade o Papa Leão XIII.
1900
Abertura de uma comunidade e de um Sanatório para crianças tuberculosas, no Outão, Setúbal, sob o patrocínio da Rainha D. Amélia de Orleães.
1901
Início da perseguição religiosa. Algumas casas da Congregação sentiram os efeitos do anticongregacionismo. Foi obrigada a fechar a comunidade de Santarém.
5 de Outubro 1910
Implantação da República. Encerramento das comunidades e expulsão das Irmãs da Congregação.
21 de Dezembro 1910
Ida das Irmãs para a comunidade no Hospital de Sant’Ana, Parede.
22 de Dezembro 1910
Viu-se obrigada a refugiar numa pensão onde passou o Natal.
16 de Janeiro 1911
Foi viver, clandestinamente, numa pequena casa alugada na Rua Gomes Freire, em Lisboa, com mais duas Irmãs, onde permaneceu até à morte.
11 de Fevereiro 1911
Partida das primeiras Irmãs para os Estados Unidos da América.
20 de Fevereiro 1911
Partida das primeiras Irmãs para o Brasil.
4 de Maio 1911
Partida das primeiras Irmãs para a Bélgica.
1912
Prorrogação do seu tempo no cargo de Superiora Geral.
As Irmãs regressaram ao Sanatório de Outão e foram para o Hospital Infantil do Rego, em Lisboa.
15 de Agosto 1913
Abertura do Noviciado em Salamanca, Espanha.
1914
Abertura de uma casa para crianças pobres, no Porto.
1915
Abertura de uma comunidade em Viseu.
8 de Janeiro 1916
Morreu, serenamente, em odor de santidade.
9 de Janeiro 1916
Exéquias na Igreja do Corpo Santo e cortejo fúnebre até ao cemitério de Benfica onde está sepultada.
Com mais de 100 anos, este eléctrico faz parte integrante da paisagem de Sintra. O percurso com cerca de 12 km entre Sintra e a Praia das Maçãs dura aproximadamente 45 minutos. E poucos são aqueles que não ficam deslumbrados com este passeio.
Hoje começou a circular a carruagem nº 1 toda restaurada! É muito bom ver que esta Autarquia continua a apostar neste Símbolo de Sintra !
O Convento da Arrábida, construído no século XVI, abrange, ao longo dos seus 25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus.
No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da Paixão e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que convencionou chamar-se o Convento Velho.
O convento foi fundado em 1542 por Frei Martinho de Santa Maria, franciscano castelhano a quem D. João de Lencastre (1501-1571), primeiro duque de Aveiro, cedeu as terras da encosta da serra.
Anterior à construção, existia onde é hoje o Convento Velho, a Ermida da Memória, local de grandes romarias, junto da qual, durante dois anos, viveram, em celas escavadas nas rochas, os primeiros quatro frades arrábidos: Martinho de Santa Maria, Diogo de Lisboa, Francisco Pedraita e São Pedro de Alcântara.
Jorge de Lencastre, filho do 1º duque de Aveiro, continuou as obras mandando construir uma cerca para vedar a área do convento. Mais tarde, seu primo D. Álvaro, mandou edificar a hospedaria que lhe servia de alojamento e projectou as guaritas, na crista do monte, que ligam o convento ao sopé da montanha, deixando, no entanto, três por acabar. Por sua vez, D. Ana Manique de Lara, nora de D. Álvaro, mandou construir duas capelas, enquanto o filho de D. Álvaro, D. António de Lencastre, mandou edificar, em 1650, o Santuário do Bom Jesus.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o convento, as celas e as capelas dispersas pela serrania sofreram várias pilhagens e enormes estragos causados pelo abandono.
Em 1863, a Casa de Palmela adquiriu o convento mas as obras só começaram nas décadas de 40 e 50 do século seguinte. Quarenta anos depois, em 1990, o seu então proprietário, Manuel de Souza Holstein Beck, vendeu o convento e a área envolvente, num total de 25 hectares, à Fundação Oriente, a única instituição, que, em seu entender, dava garantias de manter os mesmos valores com que, no século XVI, os seus antepassados o entregaram aos arrábidos.
Convento da Nossa Senhora da Arrábida
Um lugar ideal para se perder...E para encontrar-se, mesmo assim não encontrar alguém nunca mais;-). Localizado no coração da Serra da Arrábida, no Parque Natural do mesmo nome, este convento remoto e tranquilo está localizado. Não é um convento que é bem conhecido pelos turistas, pois só abre ao público a fim de explorá-la. Na verdade, para uma visita, que você deve entrar em contato com e defina a data da visita com qualquer entidade ou associação local, não está sempre aberta e como eu digo, certamente restringiu as visitas, eu sei.O convento é um complexo bastante grande, com diferentes unidades, pintadas de branco e conectado com caminhos de calçada, mas acima de tudo o que logicamente se destaca é a capela da nossa senhora da Arrábida. Para inseri-lo, ele passa pelos jardins precedidos de uma figura de San Pedro de Alcántara, depois de entrar em uma pequena praça construída praticamente sob uma inclinação vertical. Parece incrível como Box em seu dia a capela e as dependências do convento em uma área tão selvagem. Antes da entrada para a capela uma figura um tanto curiosa de mármore, representando a Frei Martinho, um dos fundadores e primeiros habitantes do convento, que estava ligado a conhecer esta área e planejar seu retiro aqui no meio do século XVI. A imagem curiosa porque ela aparece de braços cruzados, com boca e olhos enfaixados Cale-se, em um claro sinal de penitência. Primeira ordem eclesiástica que já habitavam o convento dos franciscanos que foi sempre, e o convento passaram muitas personalidades religiosas de Portugal e noviços em busca de paz interior e retiro espiritual. Certamente, o convento e seus arredores convidam para, uma vez que é cercado pela natureza acidentada e tem vistas espectaculares sobre a Baía de Setúbal, o Oceano Atlântico e a Península de Tróia. Certamente, o ambiente e a atmosfera que reina nessas partes convida a pensar e se perder. Atualmente não há nenhum monges que habitam as ruas uma vez estreitas, pequenas salas e quartos rústicos que uma vez tinham numerosos colonos. No entanto, que há uma pessoa de quem está no comando do convento e que decidiu se aposentar um dia, com a idéia de viver como uma eremita, com o que é justo e necessário, para pensar e escrever, totalmente remoto e descontaminada de vida urbana. Ele é um homem muito mais que nos fez a visita guiada de todas as dependências do convento, muito bonito e agradável, dando-na cada pequeno detalhe sobre o complexo. Assistir e ouvir suas explicações através de todos e cada um dos cantos e recantos do convento (cozinha, sala de jantar, quartos, etc.), um @ entende e verificar a dureza da vida rústica e Clausura carregando os monges aqui anos atrás, as condições de higiene e alimentação, muito básico, mas totalmente dedicado aos deveres religiosos e espirituais. Elogios, nunca melhor dito.Salientar que, apesar de não receber muitas visitas, a entidade que gere as visitas ao convento, aproveitando o idílico e místico lugar, organizar e alugar a pedido baseado nas instalações do mosteiro. No nosso caso, eles nos definir uma dependência como uma sala de reuniões em depois deram-nos excelentes comendo em um restaurante da área no último prédio do convento, com vista sobre a Baía de Setúbal e Troia espetacular. Honestamente, é um site em que existem quase nenhuma cobertura, então, se você deseja desconectar e perder mesmo, física, mas acima de tudo, mentalmente, pode ser um dos sites misticamente mais adequados a fazê-lo.